As rupturas, regra geral são processos dolorosos por acarretarem, quase sempre, grandes e bruscas mudanças nas nossas vidas. Coladas a estas mudanças (cujo propósito não entendemos de imediato), estão intermináveis listas de ‘coisas’ que o outro nos ‘fez’ e que nos magoaram profundamente.
Acreditamos assim, que é ele(a) o responsável por tudo aquilo que estamos a passar e armazenamos como troféus quilos de ressentimentos e raivas contra aquele que elegemos como único e total responsável pela nossa dor.
Acontece que, numa relação ninguém é responsável pela dor de ninguém.
Tudo o que nos magoou, foi exactamente aquilo que precisava em nós de ser magoado para ser entendido e integrado.
Na verdade, aquela pessoa que pensamos nos ter feito tanto mal, foi tão-somente alguém que a vida colocou no nosso caminho para que através dele, possamos entender e transformar aquilo que em nós ainda precisa de transformação.
Assim, mais do que, nos desgastarmos a questionar o que quisemos nós dessa relação, é fundamental perceber o que quis essa relação de nós. Para quê guardarmos no baú ressentimentos e mágoas do que não correu bem, se podemos ‘usar’ tudo o que vivemos para aprender um pouco mais sobre quem somos?
Transcender a dor – Um processo de aceitação e desapego
Ultrapassarmos o que nos magoou é antes de mais, confiarmos que tudo o que nos acontece tem um propósito e um significado nas nossas vidas, mas que só no tempo exacto saberemos quais. De nada serve, perguntarmos dias seguidos o porquê daquilo ser assim, pois até estarmos preparados para saber, temos um longo caminho pela frente.
A primeira etapa desse caminho é a aceitação da dor e o desapego a essa mesma dor. Não adianta agirmos como se não a sentíssemos, pois isso não é sinónimo da sua ausência. Não adianta fugir dela, querendo ‘animar’ em nós o que ainda está ‘desanimado'. Só a ultrapassamos, se a soubermos transcender. E, para isso é preciso vivê-la, senti-la até ao fim para poder esgotá-la.
Só depois de esgotada estamos prontos para entender e integrar o que com ela aprendemos e transformámos.
Como tudo na vida, a dor também passa. Mas, se por um lado queremos que se vá embora depressa, por outro apegamo-nos a ela permitindo que em nós se instale um profundo sofrimento, fruto de nos mantermos nesse registo para além do prazo de validade que nos é concedido. Resumindo, o sofrimento resulta do nosso apego e ao contrário da dor, é opcional.
É o sentimento de posse que nos leva a querer mantê-la, muitas vezes com a ilusória esperança, de que se ela se mantiver viva, o ‘outro’ também se manterá.
É o desapego que nos liberta da prisão das ilusões e das mentiras que contamos a nós próprios.
Desapegar-se é deixar ir, sentindo e aceitando o que se sente. É ter a coragem de parar e deixar que a vida siga o seu fluxo natural, baixando os braços, ‘não-mais-insistindo’ ou investindo em nada que prenda ou nos prenda àquela situação. No inicio deste processo somos confrontados com uma grande falta de entusiasmo, de convicção e até de sensação de perda de identidade. A passividade dói-nos e parece não pacificar o que sentimos.
Afinal os nossos valores ainda eram precários e há que dar tempo ao tempo, para que com tempo cheguem as respostas.
O fim da relação não é o fim do amor - Quando verdadeiro o Amor não tem como acabar
O facto de a relação ter terminado e de nos sentirmos magoados com situações que nela vivemos, não significa que o Amor que nela partilhámos tenha também ele tido o seu fim. O Amor é eterno, não tem rupturas. A questão é que chamamos muitas vezes Amor às nossas carências e quando assim é, normalmente as relações terminam da pior maneira, com acusações e ressentimentos mútuos, o que nos revela que o Amor não está, e provavelmente nunca esteve verdadeiramente presente. Quem um dia em verdade amámos, nunca poderemos deixar de amar. E, Amar é respeitar as escolhas do outro, não o querer possuir, não o responsabilizar pelas nossas dores. Quem ama sabe que a determinada altura da relação ambos poderão ter de viver outras experiências com outras pessoas e que apesar de isto pode significar o fim da relação, não significará nunca o fim do Amor. A relação é no fundo o teste que aceitamos passar para percebermos o quanto vibramos na energia do Amor.
A vida continua…é preciso ir fertilizando o coração
Indiferente aos nossos processos, parece estar a vida, que continua a vibrar em nós e a convidar-nos à transformação, mostrando-nos que se nela confiarmos tudo o que precisamos para crescer, nos será gentilmente oferecido. Se a dor que experienciámos foi aprendida e integrada, um dia voltaremos a estar disponíveis para uma nova relação. Para isso, e até lá, precisamos de ir fertilizando o nosso coração, respeitando o mais possível o que sentimos, passando muito tempo na nossa companhia, dando amor a nós mesmos e aos que nos rodeiam, valorizando o que temos em detrimento daquilo que ilusoriamente pensamos que nos estar a faltar. E, de processo em processo, de relação em relação é nos dada a possibilidade de irmos aprendendo o Amor.
Aceitá-la ou não é connosco.
Afinal a vida é simples, são apenas escolhas.
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