Cada dia
que passa, tenho mais a certeza que a Vida nos dá sempre os sinais necessários
para podermos ajustar em nós o que precisa de ser ajustado, colocando (ainda
que subtilmente) ao nosso dispor inteligentes formas de ‘trabalharmos’, o que
precisa de ser trabalhado.
Foi o
que me aconteceu um destes dias ao passar mais uma vez de carro na marginal,
estrada que liga Cascais a Lisboa.
De
repente dei por mim a refletir sobre a vontade que sempre tive de viver perto
do mar e do privilégio que hoje é isso ser uma realidade.
Reparei
no entanto a grande diferença entre aquilo que os meus olhos veem presentemente
e aquilo que eles viam quando aqui vinha esporadicamente passear.
Que
olhos são os meus afinal, que habituados a ‘tanto-ver-este-mar’, estupidamente
hoje parecem ignorá-lo? Questionei.
Estranha
cegueira esta que acontece sempre que damos o óbvio como certo e o certo como
parte indestrutível e imutável das nossas vidas.
A
repetição torna turva a nossa visão, impedindo-nos de ver com clareza o essencial,
que apesar de não parecer, é novo todos
os dias. Esta “novidade” acontece sempre que aceitamos a irrepetibilidade da
Vida e conseguimos ver para além do que olhamos, abrindo um espaço natural de
contemplação e descoberta.
Observemos por exemplo o dia-a-dia de muitos casais.
Observemos por exemplo o dia-a-dia de muitos casais.
Rapidamente
constatamos, que após algum tempo de vida em comum esta grave cegueira neles se
instalou de forma muito óbvia. Tão habituados estão de se verem um ao outro, que
se esquecem de se olharem verdadeiramente.
A
repetição parece anular o fogo, e tudo aquilo que em qualquer ‘início’ nos
fazia vibrar e nos estimulava, passa depois a ter um lugar demasiado cativo, capaz
de paralisar acções e de revelar e ampliar a beleza que cada um tem dentro de si.
Empurra-nos
para a ilusão de que, perante um “dado-adquirido” ou uma determinada conquista
nada mais “temos-de-fazer” para que a mesma se mantenha viva e de boa-saúde.
E, na
verdade “não-temos” J
É que
Viver não se trata de obrigação, mas sim de escolha.
Podemos
escolher agir e isso é bem
diferente.
Escolher
agir, alinhados com as Leis da Natureza (que somos também), ou por outro lado
rejeitar ou ignorar essas mesmas leis, rejeitando ou ignorando obviamente a ‘verdadeira-verdade-em-nós’.
Uma
coisa é certa, o resultado que obteremos será sempre inerente à nossa escolha,
tal como na nossa horta apenas colhemos o que semeamos.
Do
acto de semear batatas resulta o acto de colher batatas e não beterrabas ou
agriões.
Assim
sendo, sabemos que, se quisermos ver crescer uma linda e saudável planta, não
bastará olhá-la todos os dias sem a ver, nem colocá-la na Terra sem nunca lhe
darmos água, verdade?
E,
apesar de todos nós, duma ou de outra forma podermos sofrer desta doença crónica
que é a “cegueira da repetição”, curá-la é tão-somente estar consciente dos
seus recantos.
É
escolher ver, em vez de só olhar.
É
fazer crescer em vez de sabotar.
É, perante
as inúmeras repetições da nossa Vida, desistirmos de ser cegos, quando…PODEMOS
VER!
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