Na mesma vida, vivemos muitas vidas.
Pequenas e grandes mortes, habitam em nós, marcando o tempo com o compasso que nos conduzirá para a inevitabilidade da sucessão.
Perdas que contêm ganhos, e ganhos que precisam de perdas. Tudo isto, em nome da assustadora incerteza, que apenas confirma a certeza de que precisamos transitar para nos podermos transformar.
Podemos resistir, podemos rabear, porém, chegará até nós o dia em que a verdade soará mais alto e em que nos será pedido em simultâneo rendição e trabalho árduo.
Nas transições da vida, a sensação pode ser de estarmos perdidos, pois estamos entre caminhos, ou seja, ainda não chegámos ao nosso destino, mas também já não estamos no ponto de onde partimos.
Iniciada a viagem, precisaremos de ligar o nosso GPS interno, e seguir-lhe as indicações, ainda que as mesmas possam aparentar não ter sentido algum.
Precisaremos de visitar grutas sombrias, e também forças ocultas dentro de nós.
Precisaremos de conhecer a nossa pele, e saber-lhe de cor o tom e a textura.
Mesmo que aterrorizados pela expressão da nudez, precisaremos de despir a falsa pele, e aceitar as inevitáveis “mortes”.
Em vão será, fugir da dor. Tropeçaremos nela quando menos esperarmos, pois soberanamente tem sempre algo para nos ensinar e embora possa não parecer, evitá-la pode trazer-nos mais sofrimento do que atravessá-la.
Precisaremos, pois, de aceitar que nesta vida, e nesta dimensão humana, vivemos muitas vidas até nos humanizarmos verdadeiramente e resgatarmos a liberdade deste fluxo inteligente que ao que parece, e mesmo que não pareça, sabe sempre o que é melhor para nós!