DO MEDO AO AMOR

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Acredito que só existem duas raízes capazes de gerar o tronco e as folhas de todos os nossos sentimentos e comportamentos – uma o medo, resultado das nossas feridas e estruturas defensivas, outra o Amor, aquilo que somos na nossa essência.

Onde há medo não há amor, foi uma frase que há muitos anos impactou o meu caminho e acordou em mim esta certeza, de que sem consciência e sem reflexão honesta sobre as nossas relações, podemos confundir e misturar tudo no mesmo saco, enrolando-nos em dinâmicas tóxicas, como forma de honrar o amor, quando basicamente e na maior parte das vezes, estamos a remexer sim, o caldeirão interno do medo, onde acaba por residir também a vergonha, a culpa, a inadequação, entre tantos outros sentimentos.

Na minha experiência, considero de profunda importância o treino da habilidade que é, aprendermos a identificar aquilo que sentimos, como também a abrirmos espaço interno para mergulharmos aos poucos na sua origem.

Estes mergulhos, serão como portas que se abrem em nós, pois à medida que vamos caminhando, vai surgindo uma maior lucidez, e uma clareza não só dos recursos que nos habitam, como também dos padrões tóxicos que ao longo do tempo fomos repetindo e até cronificando.

Como poderemos então relacionarmo-nos de forma saudável, a partir do Amor que nos habita e não do medo, que nos encolhe e nos torna defensivos?

Não tendo receitas ou poções mágicas, e sendo totalmente descrente em mudanças rápidas, acredito basicamente em caminho e em processos.

Assim sendo, tornar conscientes os nossos padrões provenientes do medo, bem como os outros provenientes do Amor é um processo alquímico, que como todos os processos passa por várias fases.

A nossa educação e cultura, leva-nos a acreditar que podemos “apagar”, aquilo que nos conduz a comportamentos disfuncionais, se não lhe dermos importância ou lugar, mas…não podíamos estar mais equivocados.

Hoje sabe-se, que o ser humano não tem capacidade de se defender e vincular ao mesmo tempo, isto remete-nos para a verdade de que, se estamos a vibrar no medo proveniente das nossas feridas traumáticas, afastamo-nos de nós. Sempre que isso acontece, são exatamente essas partes “afastadas” que vão ter a supremacia de nos governarem, um dos motivos pelos quais permanecemos em relações abusivas, para além do prazo de validade das mesmas.

Por tudo isto, é deveras importante aprender a distinguir o que em nós ainda é medo, daquilo que em nós é essência, é amor. Reconhecer todas as nossas partes é um percurso de uma vida, porém não as rejeitar nem reprimir pode ser um bom começo. Acolhê-las com compaixão, permitirmo-nos senti-las, entrar em contacto com elas, integrá-las e por fim, a seu tempo, libertá-las.

Na verdade, o campo de experiência necessário, são as nossas relações, e a dança de luz e sombra a que as mesmas nos convidam.

É através das mesmas que nos é dada a possibilidade de sentirmos verdadeiramente a temperatura de quem somos. Saber diferenciar o que em nós ainda vibra no medo e na carência, aquilo que é gatilho para as nossas feridas primordiais, e o que em nós jamais rimará com dor, pois é, tão simplesmente AMOR!

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