Já perdi a conta, às vezes que chegam até mim mulheres, que após processos de rutura, pela dificuldade que têm em lidar com a dor, me perguntam ansiosas:
– Acha que esta dor vai demorar muito tempo a passar?
Apesar, de poder ser diferente para cada uma de nós, e de eu não ter respostas certeiras, nem receitas mágicas, aprendi com a minha própria experiência e com as experiências daqueles que me procuram em terapia, que o processo de luto não “se resolve” com o tempo, mas sim, com a travessia do mesmo.
A dor existe e indubitavelmente vai lá estar. Já o sofrimento resulta em parte da resistência que temos à própria dor. Lutamos contra ela, na esperança de a fazer desaparecer pelo desconforto que nos causa. Muitas vezes, parece impedir-nos a vida, e levar-nos para lugares que não nos são confortáveis.
Rejeitá-la não é a solução, e até pelo contrário pode ampliar o “problema”.
Mais do que rejeitá-la, a dor precisa de ser olhada, visitada e acolhida. Faz parte de nós, mas não nos define. Chega-nos, para nos trazer noticias internas, e que bom é, que isto possa acontecer.
A dor do luto após uma rutura é uma bênção, capaz de nos revelar dinâmicas que só desta forma poderiam vir à superfície para serem por nós cuidadas. Cuidá-la é dar-lhe espaço para existir, espaço para nos mostrar aquilo que nos vem mostrar. E, por isso, não é o tempo que a transforma, mas sim o processo que nos pode conduzir para recursos internos que até àquele momento desconhecíamos,
Honremos, pois, a dor dos lutos, acolhendo-a como se acolhe um amigo, que faz parte do nosso caminho. Acolhê-la, tirando-lhe de cima, a pressão do tempo que passa, mas que parece não passar.
Afinal, ela não traz consigo sofrimento, mas sim a possibilidade de nos poder ser revelado um segredo, em forma de tesouro – tornarmo-nos pessoas mais inteiras, melhores e mais verdadeiras, do que erámos antes de tudo aquilo que nos aconteceu!