MULHERES, FORA DE PRAZO?

MM1

Confesso que me entristece profundamente, escutar uma mulher acreditar e afirmar que “já está fora de prazo”, para encontrar uma relação amorosa.

Bem sei, que a sociedade parece estar desenhada assim, fazendo-nos muitas vezes acreditar que na jovem aparência estão todos os “ganhos”.

Isto, ao longo dos anos, gerou crenças que resultaram numa luta desenfreada contra o inevitável envelhecimento do corpo, que por ser inevitável a qualquer condição de vida na terra, mais cedo ou mais tarde irá acontecer. Na verdade, nunca me lembro de ver tantos anúncios de medicina estética como agora, e acompanhar cada vez mais mulheres preocupadíssimas com o seu natural processo de envelhecimento.

A crença coletiva, parece corroborar este “fora de prazo”, quando observamos por exemplo, o número de divórcios e separações em que o homem, sai da relação, quando a mulher está numa idade mais madura, (quem sabe uma espécie de afirmação da sua masculinidade), procurando uma mulher mais nova com quem acaba por se relacionar.

Culturalmente, a crença, mostra ainda, que os homens quando são “mais velhos”, são valorizados pela sua estabilidade financeira, maturidade e charme, sendo comum encontrarem mulheres muito mais novas com quem voltam inclusive a ser pais.

Já nas mulheres, observa-se o oposto.

Acreditando que estão “fora de prazo”, e regra geral, feridas, fecham o coração, retirando-se da possibilidade de encontrar um novo amor, por sentirem que com rugas, já é difícil serem vistas, desejadas e principalmente amadas.

É preciso pois, abrirmos em nós a certeza, de que o processo de envelhecimento quando honrado é sinónimo de “coisas” bem mais interessantes que de só, o que se vê por fora.

A auto-estima, é o verdadeiro reconhecimento do nosso valor e não apenas da nossa imagem.

Essa, podemos chamar-lhe a “outra estima”, que pode ou não estar conectada com a nossa auto valorização interna.

Reconhecer o nosso valor, as nossas conquistas, as nossas vulnerabilidades, bem como a resiliência que tivemos que ter para atravessar inóspitos desertos, será sempre mais recompensador do que contrariar a pele dos 50 anos, insistindo em ter 20 e principalmente acreditar que se assim não for se “está dentro de prazo”.

Lembro-me muitas vezes, de Inês (nome fictício), cujo companheiro um dia lhe disse que estava envelhecida e que parecia um pelicano com o papo que tinha debaixo do queixo.

Nunca mais Inês deixou de olhar para o papo, e não será difícil adivinhar que ele já andava a farejar outra mulher, “menos envelhecida” e sem “papo” debaixo do queixo.

Este, claro está, é o tipo de homem que não sabe honrar uma mulher, e que nenhuma de nós deveria querer ter na sua vida.

Porém, a questão é que muitas vezes, somos nós que entregamos o nosso poder pessoal ao abuso do outro e em simultâneo abusamo-nos desmesuradamente, acreditando que somos “porcarias” sem valor algum.

Quando tomamos consciência, que com papo, ou sem papo, somos MULHERES maduras, e que por isso muito caminho tivemos de percorrer até chegar aqui, talvez consigamos não mais verbalizar de forma tão brejeira que “estamos fora de prazo”.

Deixemos de nos mercantilizar de uma vez por todas.

Honremos as nossas conquistas, o nosso valor próprio, honrando cada ruga do nosso rosto. Não há prazo para encontrarmos pessoas maravilhosas na nossa vida, pois se abrirmos o nosso coração, todos os dias elas chegam até nós.

Há um prazo sim, mas para estar na terra. Para viver e para morrer.

Mas nunca para voltar a AMAR!

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