SEI DE TI PELAS REDES

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Quanto mais a idade me trespassa a pele, sinalizando uma possível maturidade, menos entendo estes tempos que vivemos.

Bem sei, que talvez a ideia do criador não seja a de entender, mas tão somente a de experienciar.

Ainda assim, teimosamente insisto não só em querer entender, como a refletir sobre esta humanidade, perguntando-me de quando em vez, que tipo de raio me terá atingido algures no tempo, para ter escolhido incarnar na Terra nesta fase tão trémula, para a qual as palavras já me vão faltando.

Com alguma nostalgia, recordo-me que…

ainda sou do tempo…

Verdade.

Ainda sou do tempo em que se procurava nas amizades uma genuína partilha.

Meticulosamente escritos na agenda repousavam os números de telefone, daqueles amigos especiais de quem tanto gostávamos e sabíamos que também gostavam de nós. Com o indicador discávamos todos aqueles algarismos, alguns já os sabíamos de cor, e combinávamos um encontro.

Parecia algo tão simples como amar alguém.

Mais tarde, já o telefone tinha tido a sua “evolução” e eram as teclas de som estridente, a ponte para combinar algo, ou tão simplesmente para saber do outro, com quem mantínhamos uma amizade, à qual me recuso a chamar de “ amizade à moda antiga”.

Hoje não é assim.

Marca-se na agenda com dois ou três meses de antecedência, e ainda assim chegada a hora não acontece.

Não há tempo, nem espaço, nem quem sabe, vontade genuína de se estar junto e se abraçar quem se gosta.

Estar ao telefone cansa, é um facto, gravam-se áudios.

Responde-se com emojis, que parecem a salvação quando o tempo é curto até para escrever…

Com tudo isto, imaginamos. E, vamos até onde a imaginação nos levar.

A qualquer lado, exceto ao encontro do outro.

– Vou sabendo de ti pelas redes…vejo que estás ótima, cheia de projetos…

Que tristeza tão grande quando isto parece bastar.

Talvez possa causar alguma estranheza, mas para mim não basta.

É que, por enquanto, ainda existe uma abissal diferença entre redes de apoio e redes sociais.

Para mim, só “sei” realmente do outro, quando lhe sinto o olho, lhe vejo a pele, lhe escuto o coração num abraço silencioso.

Em presença.

Não, na minha imaginação.

Não, nas redes!

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