SERÁ SAIR, PIOR QUE FICAR?

sair

Recebi um pedido de apoio, onde uma mulher que após descrever a sua relação visivelmente abusiva, me perguntava – “como posso eu saber se é melhor deixá-lo ou ficar com ele? Será sair, pior do que ficar? Preciso de ajuda, porque isto é tão confuso e perturbador. Parece que vivo duas vidas ao mesmo tempo”.

Bem na verdade, eu não tenho respostas certas ou certeiras, porém sei que regra geral, quando dentro de nós surge esta questão de forma tão perentória já temos a resposta para a mesma.

A sensação de numa relação se “viver duas vidas ao mesmo tempo”, pode ser um forte indicador de que os dois lados da moeda se começaram a revelar, e o encantamento está a dar lugar à realidade.

A dificuldade de agir pode trazer colada a si esta incapacidade de olhar para a realidade com olhos de verdade e não com olhos de quem está a observar uma nespereira na esperança de que a mesma se transforma num pessegueiro.

O medo de um futuro vazio, desconhecido, o ter de enfrentar e integrar os estilhaços resultantes dos sonhos desfeitos, o corte com a esperança que trazia sentido à nossa vida e que de repente se esfuma, tudo isto, nos pode fazer recuar perante uma decisão que a nossa alma sabe que tem de ser tomada.

Quando numa relação existe abuso, regra geral o mesmo saltita como pipocas num tacho, oscilando entre os pedidos de desculpas, flores, um jantar à luz das velas ou um romântico passeio ao local que há anos queríamos visitar e as acusações, o desinteresse, as palavras tão cáusticas quanto subtis, enfim, se o abuso viesse só, talvez a confusão fosse mais simples de desconfundir.

Claro está, que a forma como nos vinculamos, o tal “terreno fértil” de que tanto falo, poderá ter aqui um papel preponderante, pois será fácil para uma pessoa com limites bem definidos e vinculação segura, perceber aos primeiros sinais quando uma relação está a ser abusiva e a sair dela, antes que ela “entre-em-si”.

No entanto, quando existe uma vinculação e uma normalização do abuso, esta dificuldade em decidir entre aquilo que tanto mal me faz e aquilo que me vai fazendo um “benzito” de vez em quando, pode efetivamente levar-nos a questionar “se sair dali, será pior do que ficar”.

Na minha experiência, o dia da decisão, não chega num dia.

Apesar do medo do desconhecido, do medo do futuro, do medo de se ficar só, aprendi e presenciei algumas pessoas que acompanho em terapia, que se SAI, quando a realidade de FICAR é mais dolorosa do que a incerteza e a dor de partir.

Nem todos aqueles que terminam uma relação deixaram de amar a outra pessoa. Porem após dias, meses ou anos de abuso, (como é o caso que descrevi no início), todos eles deixaram de se AMAR a SI MESMOS.

E, isto, só isto já seria suficiente para que a decisão de SAIR, seja milhares de vezes mais benéfica do que a decisão de FICAR a rebolar constantemente na perturbadora confusão de viver ao lado de alguém, que não está ao nosso lado!

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